A Revolução Silenciosa

A nós que sonhávamos com dar a vida pela ‘revolução tardia’, a História cruelmente se encarregou de demonstrar que é inaplicável o Socialismo, em nível de um Sistema Geral. A razão primeira desse impasse é a caótica humanidade de que dispomos – ninguém poderá construir um edifício sem matéria! Mas, a grande questão é “em que poderá ser revolucionária essa paixão humanística que restou latente dentro de nós?” Este é o dilema dos órfãos da revolução.

Ressalte-se que o grande oponente da mudança – o reacionarismo – agora é outro; ou pelo menos está complexificado na figura hipócrita da Democracia Social, que, até então, apenas tem sociabilizado os lucros do privilégio entre seus pares.

Contrapondo-se a isso, as características de cooperativismo e associativismo podem, e estão aí, a minar as bases de uma democracia neoliberal muitas vezes direcionada ao contrário das funções essenciais do Estado, que é a promoção do bem estar e do desenvolvimento humano. Também a correlação que se tem feito entre Educação e desenvolvimento, no âmbito dos organismos internacionais, tem impulsionado os governos locais ao debate dessa agenda. Está, parcimoniosa, mas é verdade, uma ‘revolução’ social em curso, silenciosa. Ecoando dos rincões, conseqüência dos gritos de opressão e violência. Mal ou bem, os cabrestos têm sido arrancados e duras penas terão que ser pagas pela liberdade, e pelo direito de revolucionar, no alcance da individualidade.

Portanto, extintas as metas radicais do Socialismo Utópico, ainda mais urgentes permanecem os anseios de humanizar o homem. Resta latente o sentimento inquieto na busca da justiça e da igualdade cívica. O grande terreno mundial que se almejou como cenário para a construção da verdadeira harmonia entre humanidades, agora se acha reduzido ao pequeno espaço dos corações e mentes humanistas. Disso salta evidente que a ‘nova revolução’, em seu discreto modo de obsessão, ainda vive, e cada um deve tomar o seu pequeno mundo social, para transformá-lo com o amor – aquele amor que, segundo Ernesto Guevara de La Serna. Move todo revolucionário.

Não é mais o Socialismo de massas iluminadas e pungentes, mas agora são pontos cintilantes de inconformismo. A isso podemos chamar ‘consciência humanística’, em contraposição à inaplicável ‘consciência de classe’. Não se trata, contanto, de apregoar o típico individualismo que condenamos na sociedade de consumo. É somente a crença aplicada de que o homem, no seu íntimo, pode refletir com amor e partir para transformar sua posição. A batalha deve ser travada no nível do espírito, lá onde o capitalismo hedonista foi fazer suas presas. Se o materialismo marxista perdeu em ignorar o subjetivismo da alma humana, nós, com menções de doçura e fraternidade, podemos cooptar o homem através do apelo à sensibilidade. Somente o amor transforma. Sem sangue e sem dor.

Mauro Santayana revoltado no JB

Confesso que sempre admirei a eloqüência de Mauro Santayana, naquela coluna “sagrada” logo à esquerda, quando se abre o Jornal do Brasil. Muitas vezes, ao percorrer seu texto, tive um frio na barriga, achando que ia encontrar logo à frente alguma frase reacionária, que me desapontasse como seu leitor assíduo.
Mas, em contrário, na edição de hoje, 25 de julho, Santayana se exaspera exatamente com esses povos “civilizados”, que insistem em dar às relações internacionais o toque de neo-colonialismo. Assim trancrevo trechos do artigo “Coisas da Política – Os mestres da democracia”:

Não necessitamos de lições alemãs, ou norte-americanas, sobre democracia e direitos humanos. Ao contrário. Contribuímos, com o sangue de brasileiros, para que o mundo não se transformasse em vasto Auschwitz. Quanto aos republicanos de Washington, basta o que fizeram no Vietnã e estão fazendo no Iraque e no Afeganistão, além do que fizeram em toda a América Latina, promovendo golpes e intervindo militarmente, do México ao Chile. Se acham que podemos aceitar que mentir, como mentiram, no caso do Iraque, usar dioxina para matar populações inteiras na Indochina, empregar balas de urânio empobrecido nos Bálcãs, ameaçar o mundo com guerras pré-emptivas e infinitas é defender os direitos humanos, ou que a IV Frota vai reprimir o tráfico de cocaína, é imaginar que somos parvos e idiotas.

Logo que se conheceram, em 1945, os horrores cometidos pelos nazistas, um autor francês – o nome me escapou da memória – ao prefaciar o livro de um dos sobreviventes, escreveu: “No dia em que os alemães forem democratas, irão invadir-nos, sob o pretexto de que a sua democracia é melhor do que a nossa”.

É óbvio que isso aqui é uma balbúrdia, com um presidente “simplório” e alienado, insinuando que cada barra de aço exportado equivale a um bife em minha mesa… Logo ele, que dizem ter-se inspirado nas fileiras marxistas… Acho que o sr. presidente nunca leu uma linha daquele pensador! No entanto, ser um agente do liberalismo desenfreado é uma questão de “cacoete do poder”; para ser um medíocre chefe de nação subdesenvolvida “não precisa ler é nada”.

Santayna perdeu as estribeiras com razão, e, certamente, a tirania dos “democratas” está muito mais relacionada à alienação do nosso povo – incluindo aí o presidente – do que nós imaginamos.