Mauro Santayana revoltado no JB

Confesso que sempre admirei a eloqüência de Mauro Santayana, naquela coluna “sagrada” logo à esquerda, quando se abre o Jornal do Brasil. Muitas vezes, ao percorrer seu texto, tive um frio na barriga, achando que ia encontrar logo à frente alguma frase reacionária, que me desapontasse como seu leitor assíduo.
Mas, em contrário, na edição de hoje, 25 de julho, Santayana se exaspera exatamente com esses povos “civilizados”, que insistem em dar às relações internacionais o toque de neo-colonialismo. Assim trancrevo trechos do artigo “Coisas da Política – Os mestres da democracia”:

Não necessitamos de lições alemãs, ou norte-americanas, sobre democracia e direitos humanos. Ao contrário. Contribuímos, com o sangue de brasileiros, para que o mundo não se transformasse em vasto Auschwitz. Quanto aos republicanos de Washington, basta o que fizeram no Vietnã e estão fazendo no Iraque e no Afeganistão, além do que fizeram em toda a América Latina, promovendo golpes e intervindo militarmente, do México ao Chile. Se acham que podemos aceitar que mentir, como mentiram, no caso do Iraque, usar dioxina para matar populações inteiras na Indochina, empregar balas de urânio empobrecido nos Bálcãs, ameaçar o mundo com guerras pré-emptivas e infinitas é defender os direitos humanos, ou que a IV Frota vai reprimir o tráfico de cocaína, é imaginar que somos parvos e idiotas.

Logo que se conheceram, em 1945, os horrores cometidos pelos nazistas, um autor francês – o nome me escapou da memória – ao prefaciar o livro de um dos sobreviventes, escreveu: “No dia em que os alemães forem democratas, irão invadir-nos, sob o pretexto de que a sua democracia é melhor do que a nossa”.

É óbvio que isso aqui é uma balbúrdia, com um presidente “simplório” e alienado, insinuando que cada barra de aço exportado equivale a um bife em minha mesa… Logo ele, que dizem ter-se inspirado nas fileiras marxistas… Acho que o sr. presidente nunca leu uma linha daquele pensador! No entanto, ser um agente do liberalismo desenfreado é uma questão de “cacoete do poder”; para ser um medíocre chefe de nação subdesenvolvida “não precisa ler é nada”.

Santayna perdeu as estribeiras com razão, e, certamente, a tirania dos “democratas” está muito mais relacionada à alienação do nosso povo – incluindo aí o presidente – do que nós imaginamos.