Quem disse que igualdade é sinônimo de justiça?

Às vezes perdemos de vista que a lei busca obstinadamente a justiça. Toda lei concorre para a justiça ─ esta que é uma utopia obrigatória diante dos direitos humanos convencionados por nossa civilização.Por esse ângulo, a tentativa de aplicar “igualdade formal” à casos desiguais, pela natureza prática da vida e dos fatos, pode ir exatamente em contrário à justiça pretendida. Isto posto, sugiro um seminário com o seguinte tema: “Os Planos Diretores de Desenvolvimento das Cidades e o Objetivo da Justiça Social”.
Talvez possamos entender que a crítica não é pura e simplesmente a determinados parâmetros urbanísticos, mas à ausência de um ‘senso do justo’. Noutro aspecto, podemos considerar que a sociedade se divide em, no mínimo, duas classes: uma que, por mérito ou casualidade teve acesso ao progresso, e outra que, por acaso, opressão ou demérito, não o teve.
A partir daí, pode-se repensar alguns benefícios, como cotas e ‘bolsas’ públicas: o estado também deve temperar o ‘julgo da igualdade’, na busca da justiça. Não basta a tentação de olhar pelo óculo do lucro capitalista: trata-se é de se por ao alcance de todas as mãos um pequeno, um micro universo de novas possibilidades. Nem todos serão afortunados; nem todos serão austeros. Mas, ao fim, o estado terá cumprido sua função essencial de justiça, que é distribuir igualmente as oportunidades.

A Revolução Silenciosa

A nós que sonhávamos com dar a vida pela ‘revolução tardia’, a História cruelmente se encarregou de demonstrar que é inaplicável o Socialismo, em nível de um Sistema Geral. A razão primeira desse impasse é a caótica humanidade de que dispomos – ninguém poderá construir um edifício sem matéria! Mas, a grande questão é “em que poderá ser revolucionária essa paixão humanística que restou latente dentro de nós?” Este é o dilema dos órfãos da revolução.

Ressalte-se que o grande oponente da mudança – o reacionarismo – agora é outro; ou pelo menos está complexificado na figura hipócrita da Democracia Social, que, até então, apenas tem sociabilizado os lucros do privilégio entre seus pares.

Contrapondo-se a isso, as características de cooperativismo e associativismo podem, e estão aí, a minar as bases de uma democracia neoliberal muitas vezes direcionada ao contrário das funções essenciais do Estado, que é a promoção do bem estar e do desenvolvimento humano. Também a correlação que se tem feito entre Educação e desenvolvimento, no âmbito dos organismos internacionais, tem impulsionado os governos locais ao debate dessa agenda. Está, parcimoniosa, mas é verdade, uma ‘revolução’ social em curso, silenciosa. Ecoando dos rincões, conseqüência dos gritos de opressão e violência. Mal ou bem, os cabrestos têm sido arrancados e duras penas terão que ser pagas pela liberdade, e pelo direito de revolucionar, no alcance da individualidade.

Portanto, extintas as metas radicais do Socialismo Utópico, ainda mais urgentes permanecem os anseios de humanizar o homem. Resta latente o sentimento inquieto na busca da justiça e da igualdade cívica. O grande terreno mundial que se almejou como cenário para a construção da verdadeira harmonia entre humanidades, agora se acha reduzido ao pequeno espaço dos corações e mentes humanistas. Disso salta evidente que a ‘nova revolução’, em seu discreto modo de obsessão, ainda vive, e cada um deve tomar o seu pequeno mundo social, para transformá-lo com o amor – aquele amor que, segundo Ernesto Guevara de La Serna. Move todo revolucionário.

Não é mais o Socialismo de massas iluminadas e pungentes, mas agora são pontos cintilantes de inconformismo. A isso podemos chamar ‘consciência humanística’, em contraposição à inaplicável ‘consciência de classe’. Não se trata, contanto, de apregoar o típico individualismo que condenamos na sociedade de consumo. É somente a crença aplicada de que o homem, no seu íntimo, pode refletir com amor e partir para transformar sua posição. A batalha deve ser travada no nível do espírito, lá onde o capitalismo hedonista foi fazer suas presas. Se o materialismo marxista perdeu em ignorar o subjetivismo da alma humana, nós, com menções de doçura e fraternidade, podemos cooptar o homem através do apelo à sensibilidade. Somente o amor transforma. Sem sangue e sem dor.

Diferenças: observe a “tolerância” da natureza

Está mais que claro, pelas faces, que são distintas; pelas vontades, pelos gostos, pelas cores… Que a natureza impõe a TOLERÃNCIA como recurso de sobrevivência e paz. Do mundo natural, aliás, é que decorrem as próprias disparidades sociais, reveladas em tantas religiões, tanto partidarismo político, tanto fulgor criativo nas artes, e pouca fraternidade. É preciso acima de tudo respeitar como “igual”, na condição humana frágil que cada um sustenta. Se olharmos esses rostos tão “longínquos”, entretanto, vemos uma unidade, uma característica que, em maior profundidade, nos torna irmãos. Isso: somos irmãos, e nem precisamos impor uma concepção ideológica ou religiosa aos outros. Somos, no mínimo, irmãos em espécie.

Foto e montagem de Memo Vasquez, no Flickr... "diferentes mas iguais".

Foto e montagem de Memo Vasquez, no Flickr... "diferentes mas iguais".