Vida e Foto — Meu Portifólio no Flickr

OqueHáDeMaisProfundoNaLuzmy.mindconjunzzione.Hibiscus.Hibridusparagem.do.náufragoharmony ||| Amanda Mozer
..não.esquecer-me.de.quem.sou60s.yearsPassado e FuturoPonta da Sapatad'oiradoContemplação
dual.globeConversa fiadaDe esguelho...Limo.Idade.SubmersadoveCilada
sunset.Vida Alternativacamaleon20minutosAtrásOcéuEstavaAssiman.derrièrecacat e casinho

Em Busca da Expressividade Perfeita

O homem que hoje fotografa esta riqueza de cores e detalhes nasceu míope de 14 graus, astigmático e daltônico. O entalhe em madeira, os rabiscos a lápis e pincel serviram como apêlo expressivo, porém ainda mudo e bastante cifrado, coisa que represava e impedia de nascer uma ‘língua nova’. A arte daquele menino tímido estava em demasia presa ao tato, porque a visão nunca foi o seu forte…

Hoje, depois do encontro com as lentes, a câmera se fez a extensão de meu corpo. Por ela eu digo o quão plausíveis são as possibilidades de ‘enxergar’ através da alma, da sensibilidade. Sem a câmera talvez eu fosse um homem irriquieto e aprisionado. Mas é pela fotografia e com a fotografia que eu executo em plenitude a liberdade. Isso é meu anseio, quando fotografo: que todos sejam livres, a partir da contemplação e do autoconhecimento. E quiçá assim sejamos menos desumanos.

2009 – Saludos a Neruda!

Que o novo ano despontando adiante seja fecundo de percepções novas, de humanidades afloradas e sensíveis. Colo aqui abaixo um poema, hino da indignação de Pablo Neruda, contra a hipocrisia e os males da guerra.

Almeria

Um prato para o bispo, um prato triturado e amargo,
um prato com restos de ferro, com cinzas,com lágrimas, um prato submerso, com soluços e paredes caídas,
um prato para o bispo, um prato de sangue da Almeria.

Um prato para o banqueiro, um prato com caras
de meninos do Sul feliz, um prato
com detonações, com aguas loucas e ruinas e espanto,
um prato com eixos partidos e cabeças pisadas,
um prato negro, um prato de sangue da Almeria.

Cada manhã, cada manhã turva de nossa vida
o terás fumegante e ardente na vossa mesa:
o afastarás um pouco com vossas suaves mãos
para não ve-lô, para não digeri-lo tantas vezes:
o afastereis mais um pouco entre o pão e as uvas,
a este prato de sangue silencioso
e que estará alí, cada manhã, cada manhã.

Um prato para o Coronel e a esposa do Coronel,
numa festa da guarnição, em cada festa,
sobre os juramentos e os cuspes, com a luz de vinho da madrugada
para que o vejais tremendo de frio sobre o mundo.
Sim, um prato para todos vós, ricos daqui e de lá, embaixadores e ministros, comensais atrozes, senhoras de confortável chá e pronuncia:
um prato destroçado, transbordado, sujo de sangue pobre,
para cada manhã, para cada semana, para jamais,
um prato de sangue da Almeria, diante de vós, sempre.

De Pablo Neruda

A Ecologia Humana de Vinicius

Muito do que há, às vezes, incidentalmente, em Vinicius, está extremamente relacionado às subjetividades “espirituais” de sua ecologicidade humana. A intenção de “inserir-se” no mundo, respeitando seu “bem” e revolucionando seu “mal”; a profunda humildade de reconher o pequeno, mas significante, papel da genialidade, diante dos problemas humanos…

Tanto Vinicius, quanto Ganzaquinha e Chico, são almas que duelaram com a língua, se mantiveram fingindo-se de mortos no meio da “elite” autosuficiente, e de lá disparando suas farpas contra a opressão, a fim de dizer ao povo: “estamos cantando coisas a vosso respeito!”… E a tragédia é que a parca educação dessa gente inviabilize o autoconhecimento… Então, “¿como mudar-me, se agora mesmo não sei quem sou?”.

Eis, em Vinícius, um homem que “sabe bem quem é!” Que se plante esta semente no coração das mutidões. A começar por nós mesmos, pelos nossos pequenos, nossos amigos e inimigos.

Imaginação versus alienação

Vivo meus dias neste intrigante exercício de fugir da imaginação que aliena – tão usada como vicioso recurso de mídia – mas sabendo o quanto é caro o “sonho”. Inevitavelmente, vou à conclusão de distinguir as diferentes formas ficcionais aplicadas, por exemplo, à literatura. É, sobretudo, por este caminho que se pode encontrar a substancial diferença entre medíocres e louváveis escritores.

Assim, nem há que se comparar Paulo Coelho a Saramago; aliás, nem se cometam tais sacrilégios! Saramago é “santo”, na profundidade de uma literutura que “sonha” influir para a justiça, enquanto Paulo Coelho, afora o mérito de ser todo trabalho “sagrado”, rabisca lá suas “grades”, pois quanto mais “assanha” e “adula” as particulares psicologias, mais desobriga o homem de agir pelo nivelamento democrático, pela justiça socialmente concebida. Afinal, prevalece o que está no “mago” português: ou a tristeza do mundo nos constranja, ou a alegria do mundo nos satisfaça. O que a constatação da miserável realidade não mais acolhe é que condicionemos o “retrato” do mundo às lentes ilusórias de nosso egoísmo “auto-ajudado”.

Toda criação tem suas origens nas tradições culturais, porém se desenvolve plenamente em contacto com outras. Essa é a razão pela qual o património, em todas suas formas, deve ser preservado, valorizado e transmitido às gerações futuras como testemunho da experiência e das aspirações humanas, a fim de nutrir a criatividade em toda sua diversidade e estabelecer um verdadeiro diálogo entre as culturas.

(Declaração Universal Sobre a Diversidade Cultural, Artigo 7 – Unesco)

Obviamente, seria blasfemante comparar Franz Kafka a Sidney Sheldon, Audows Huxley a Gustave Flaubert, embora ninguém questione a genialidade literária deste último, a exemplo. Aliás, de Flaubert tenho anotadas as dicas de persecução à prosa “perfeita”. Apenas pretendo dar á minha criatividade escritual a função reflexiva e contextativa que se requer no mundo injusto particularmente “captado” por minhas “lentes”…