Imaginação versus alienação

Vivo meus dias neste intrigante exercício de fugir da imaginação que aliena – tão usada como vicioso recurso de mídia – mas sabendo o quanto é caro o “sonho”. Inevitavelmente, vou à conclusão de distinguir as diferentes formas ficcionais aplicadas, por exemplo, à literatura. É, sobretudo, por este caminho que se pode encontrar a substancial diferença entre medíocres e louváveis escritores.

Assim, nem há que se comparar Paulo Coelho a Saramago; aliás, nem se cometam tais sacrilégios! Saramago é “santo”, na profundidade de uma literutura que “sonha” influir para a justiça, enquanto Paulo Coelho, afora o mérito de ser todo trabalho “sagrado”, rabisca lá suas “grades”, pois quanto mais “assanha” e “adula” as particulares psicologias, mais desobriga o homem de agir pelo nivelamento democrático, pela justiça socialmente concebida. Afinal, prevalece o que está no “mago” português: ou a tristeza do mundo nos constranja, ou a alegria do mundo nos satisfaça. O que a constatação da miserável realidade não mais acolhe é que condicionemos o “retrato” do mundo às lentes ilusórias de nosso egoísmo “auto-ajudado”.

Toda criação tem suas origens nas tradições culturais, porém se desenvolve plenamente em contacto com outras. Essa é a razão pela qual o património, em todas suas formas, deve ser preservado, valorizado e transmitido às gerações futuras como testemunho da experiência e das aspirações humanas, a fim de nutrir a criatividade em toda sua diversidade e estabelecer um verdadeiro diálogo entre as culturas.

(Declaração Universal Sobre a Diversidade Cultural, Artigo 7 – Unesco)

Obviamente, seria blasfemante comparar Franz Kafka a Sidney Sheldon, Audows Huxley a Gustave Flaubert, embora ninguém questione a genialidade literária deste último, a exemplo. Aliás, de Flaubert tenho anotadas as dicas de persecução à prosa “perfeita”. Apenas pretendo dar á minha criatividade escritual a função reflexiva e contextativa que se requer no mundo injusto particularmente “captado” por minhas “lentes”…