A Estética do Absurdo

Dizem que o segredo da beleza é a simetria. Que a harmonia entre os elementos particulares de um composto visual possuem a capacidade de deter o cérebro, vindo de passear pelo universo tão caótico e desconexo das imagens, até parar ali…

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Eu prefiro acrescentar que a simetria tem servido para distinguir padrões. Paradigmas que a tirania do gosto, presente em nós, tenta impor ao mundo.
Noutro extremo deste vício, a estética do paradoxo busca seus antipadrões, no que chama de exótico. E mesmo o exótico, por esse despotismo, obriga-se à uniformidade — está aí formada a ditadura sutil da contemporaneidade.

Existe porém um senso estético que perpassa a natureza visível das coisas, para desvendar-lhes um universo de significados. Este senso acha a beleza no que é decrépito, ou no que o vulgo julga feio…

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Sobre isso era que dizia Saint-Exupery “o essencial à vida é invisível aos olhos”. A sociedade moderna, impondo um bloqueio entre o homem sensitivo e o produtivo, priva as pessoas do autoconhecimento, da percepção a respeito do que há de apreciável nos seres e objetos. Neste embate, a natureza passa a ser um obstáculo…

Estamos aí já a falar de um homem cego; talvez o mesmo cego da ‘alegoria da caverna’– de Platão: aquele que, de tanto viver a obscuridade insensitiva, passa a não crer mais na luz, na beleza, e passa a vilipendiar o ‘artista’ que as vê..

Tenho passado grande parte do meu tempo em observar as disparidades e as multifaces do mundo. É esta riqueza de matizes que pretendo fotografar. No fundo apenas comungo as doutrinas do amor paulofreireano, que propunha a contemplação, como elemento de autoconhecimento, de sublimação das diferenças de ‘raças’, cores, classes. Um sentimento estético que se aprofunda na substância abstrata, nos sentidos, vê no feio e segregado, o mais belo motivo de acolhimento, identificação. Porque no fundo, para todas as direções que olhamos, há um espelho voltado para nós.

Imaginação versus alienação

Vivo meus dias neste intrigante exercício de fugir da imaginação que aliena – tão usada como vicioso recurso de mídia – mas sabendo o quanto é caro o “sonho”. Inevitavelmente, vou à conclusão de distinguir as diferentes formas ficcionais aplicadas, por exemplo, à literatura. É, sobretudo, por este caminho que se pode encontrar a substancial diferença entre medíocres e louváveis escritores.

Assim, nem há que se comparar Paulo Coelho a Saramago; aliás, nem se cometam tais sacrilégios! Saramago é “santo”, na profundidade de uma literutura que “sonha” influir para a justiça, enquanto Paulo Coelho, afora o mérito de ser todo trabalho “sagrado”, rabisca lá suas “grades”, pois quanto mais “assanha” e “adula” as particulares psicologias, mais desobriga o homem de agir pelo nivelamento democrático, pela justiça socialmente concebida. Afinal, prevalece o que está no “mago” português: ou a tristeza do mundo nos constranja, ou a alegria do mundo nos satisfaça. O que a constatação da miserável realidade não mais acolhe é que condicionemos o “retrato” do mundo às lentes ilusórias de nosso egoísmo “auto-ajudado”.

Toda criação tem suas origens nas tradições culturais, porém se desenvolve plenamente em contacto com outras. Essa é a razão pela qual o património, em todas suas formas, deve ser preservado, valorizado e transmitido às gerações futuras como testemunho da experiência e das aspirações humanas, a fim de nutrir a criatividade em toda sua diversidade e estabelecer um verdadeiro diálogo entre as culturas.

(Declaração Universal Sobre a Diversidade Cultural, Artigo 7 – Unesco)

Obviamente, seria blasfemante comparar Franz Kafka a Sidney Sheldon, Audows Huxley a Gustave Flaubert, embora ninguém questione a genialidade literária deste último, a exemplo. Aliás, de Flaubert tenho anotadas as dicas de persecução à prosa “perfeita”. Apenas pretendo dar á minha criatividade escritual a função reflexiva e contextativa que se requer no mundo injusto particularmente “captado” por minhas “lentes”…

É Preciso Transformar!

Um corpo de relevos claros, Curvas em arcos perfeitos, Pêlos fininhos.
A beleza escrita em braile…  Coloque esse monumento exposto ao sol de meio dia: Toda a parte sombreada se aproveita bem. E à noite toda ela estará sombreada, À noite toda ela é boa, por isso apagam a luz.

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