Vontade versus necessidade

“As pessoas não sabem o que querem até mostrarmos a elas”. (de Steve Jobs)

Frase símbolo do consumismo e da superfluidade, muito admirada pela sociedade-objeto, pois foi isolada do contexto original e apropriada pelo marketing.

É também o símbolo da futilidade de nosso tempo, do descartabilismo e da exploração exaurente da natureza.

Cabe perguntar-nos: tudo o que queremos, cuja ausência nos causa até frustração e infelicidade, é o que de fato precisamos?

Não vai longe o tempo em que nossos sonhos de criança eram plenamente executáveis quando fôssemos adultos… Mas algo interpôs-se em nosso caminho, de modo que só milionários e celebridades realizam hoje nossas exacerbadas ambições.

Está aí, talvez, o motivo de um mundo sempre festivo, mas sutilmente infeliz, pronto a explodir em violência.

Garotos brincam com pequena canoa de fibra na praia de Manguinhos, Búzios, Rio de Janeiro (Desconhecido, Ayron e Eric).

Garotos brincam com pequena canoa de fibra na praia de Manguinhos, Búzios, Rio de Janeiro (Desconhecido, Ayron e Eric).

Revolução na Nossa Pele

palhaça
Numa dessas viagens, pedi para fotografar uma jovem caracterizada de palhaça, conversando com  dois meninos de rua, numa avenida movimentada de Florianópolis. Como costumo fazer, bati um papo para saber a história dela, depois de fotografá-la (perdi o papel com o nome, ao subir num barco depois). 
Descobri que era um projeto social, em que voluntários se predispunham a dar conselhos a meninos em condição de risco social. O pressuposto é que, se esses pequenos têm o lar desestruturado, e se a rua se lhes parece um lar rude e substituto, seria necessário ter a figura maternal, a dar conselhos, a prevenir. Então aqui está o que ela, a palhaça, me disse: “nós semeamos palavras de vida. Em uns corações elas brotam, noutros vão causar remorsos um dia”.
Por que digo isso tudo? Porque vi simultaneamente ali, e vejo hoje, uma certa classe que passa com vidros fechados e cara virada, rotulando tudo que é pardo e pobre como “bandido” e delinquente. E esse mesmo padrão comportamental está também na rede social. Pessoas pressupostamente indignadas, mas que nunca estenderam a mão aos mais carentes, e que, além disso, discriminam políticas públicas e desprezam iniciativas voluntárias que o fazem. ◄