Revolução na Nossa Pele

palhaça
Numa dessas viagens, pedi para fotografar uma jovem caracterizada de palhaça, conversando com  dois meninos de rua, numa avenida movimentada de Florianópolis. Como costumo fazer, bati um papo para saber a história dela, depois de fotografá-la (perdi o papel com o nome, ao subir num barco depois). 
Descobri que era um projeto social, em que voluntários se predispunham a dar conselhos a meninos em condição de risco social. O pressuposto é que, se esses pequenos têm o lar desestruturado, e se a rua se lhes parece um lar rude e substituto, seria necessário ter a figura maternal, a dar conselhos, a prevenir. Então aqui está o que ela, a palhaça, me disse: “nós semeamos palavras de vida. Em uns corações elas brotam, noutros vão causar remorsos um dia”.
Por que digo isso tudo? Porque vi simultaneamente ali, e vejo hoje, uma certa classe que passa com vidros fechados e cara virada, rotulando tudo que é pardo e pobre como “bandido” e delinquente. E esse mesmo padrão comportamental está também na rede social. Pessoas pressupostamente indignadas, mas que nunca estenderam a mão aos mais carentes, e que, além disso, discriminam políticas públicas e desprezam iniciativas voluntárias que o fazem. ◄

Absurdos miméticos

Eu sugeriria aos amigos, que se detivessem bem diante de uma palavra viva e bastante descontextualizável da Biologia, à qual está quase sempre vincula. Trata-se de MIMESIS ou MIMESE. É o fenômeno da imitação — por exemplo, a borboleta e a lagartixa que ‘copiam’ a cor da árvore, para se tornarem invisíveis diante do predador…
Quando vim desde o ano passado martelando no conceito da “ERA da VIOLÊNCIA”, era mais ou menos disso, que nos dias atuais nos estarrece, que eu falava. Vejamos o encadeamento dos fatos, e os leitores me dirão se estamos a perfilar coincidências.
.
tumblr_mdz60qeFTk1rlfk7bo1_500
Há uns anos recentes, o mundo do esporte se tornou muito mais agressivo (vou evitar ‘violento’) com a presença das lutas de “Artes Marciais Mistas”. Em seguida, veio a febre dos programas de tevê repisando casos de violência, em closes, detalhes e clamores de “justiça”; encucando, seviciando as classes mais humildes, a quem os canais abertos são um flagelo fatal.
Depois, parlamentares justiceiros avançaram junto ao seu eleitorado clamoroso por ‘”justiça”, vinda a dar novas cores à frase “bandido bom é bandido morto”. Depois, o STF, pela sua tevê, exibiu espetaculosamente o julgamento do chamado mensalão, com as poses dramatúrgicas típicas de ministros que perseguem muito mais do que a justiça. E assim fez um ministro transformar-se em estrela de uma classe “indignada”… Tempos depois, vieram os ‘protestos de junho’, com insuflações terroristas em meio ao povo manifestante, não sem haver denúncias de pagamentos e orquestração político-partidária e até estrangeira.
Depois, o que parecia uma insanidade — o apoio à Ditadura assassina no Brasil — começou a ser defendida por artistas, políticos e por comentaristas midiáticos. Depois, colunistas de jornal, repórteres tomaram a ousadia de bradar por “justiça”, geralmente insuflando as mentes combalidas contra os adversários que lhes convieram.
Depois, um caso específico ganhou repercussão nacional, onde a repórter recomendou que os solidários a um rapaz “bandido”, o “levassem para casa”, bradando contra as organizações defensoras dos direitos humanos. Depois, nos julgamentos de recursos do ‘mensalão’, deu-se ensejo a que um segmento da sociedade peça vingança contra a “maior quadrilha do Brasil”, não obstante o tribunal máximo, na função de algoz, não pudesse sustentar nos autos suas tendências justiceiras (?).
Muito recentemente, nos aparece a foto de um policial federal (!)  treinando num alvo que contém o rosto da autoridade máxima constituída pelo voto no País. E paramos com essa lista extensa, dando conta da morte de uma jovem senhora, a dona de casa Fabiane Maria de Jesus, de 33 anos, vitimada por vizinhos de bairro, que lhe queriam fazer “justiça” com as próprias mãos, a partir de “boatos na rede social”.
.
(*Imagem com citação tomada de empréstimo do link: http://goo.gl/xaNXCe)

Senhores, falemos de duas espécies de ‘filtros sociais’

A universidade pública tem um filtro para escolher quem entra e, historicamente, nós sabemos que ele foi engendrado de modo no mínimo irresponsável, se não deliberado, com esta função: segregar, manter privilégios. Pais abastados, que, por ‘coincidência’ são a classe dominante, inclusive na política, determinam a programação curricular da Educação Básica e do Ensino Superior. Então eles (donos do poder), conduzem seus filhos a boas escolas privadas, que os capacitarão a comer o ‘filé’, a passar pelo filtro condensado no vestibular. De outro modo, esta classe dominante (que não é preta nem pobre) destina uma péssima Educação de Base aos seus adversários de classe ─ negros e pobres…

O OUTRO FILTRO É O MERCADO. O mercado sabe selecionar quem teve boa formação, independente, inclusive, de ela ter ocorrido no setor público ou privado. A formação superior, não adianta negar, forma para o mercado ─ o filtro mercado é inexorável. Então vejamos: que coisa é essa de que é problemático “jogar negros despreparados dentro de uma universidade”? Formaram essa medíocre opinião já com base em preconceitos! Quem disse que o negro ‘jogado’ na universidade é despreparado? Por que nos permitimos esse pejo genérico e imperialista contra uma classe de pessoas? Será que o sujeito de classe média, apenas por que tem dinheiro pra ser adestrado por um cursinho pré-vestibular, também não tem uma “formação medíocre”? Por outro lado, essa história de que as cotas rebaixam o nível acadêmico vêm sendo questionada de modo peremptório por quem faz observação metódica da trajetória dos cotistas. Surpreendentemente, hoje, a maioria dos que passam em concursos públicos de nível superior receberam alguma forma de subsídio ou cota governamental.

ENTÃO ACREDITO que devemos desconfiar de nossas certezas e pesquisar dados objetivos; analisar nossos preconceitos (não de raça, que não é o caso). Mas tenho visto muito empirismo, muito achismo nessas críticas. Obviamente, e a priori, a cota para negros não me agrada, numa vista hermética; elas devem ser rechaçadas num sistema ideal – muito distante do nosso. Também dizer que tem que se investir em Educação Básica me soa já consensual, É ÓBVIO! E isto seria estar semando para o horizonte de uma a duas décadas… Mas o de que se está falando é da reparação de um tempo passado, para que aproveitemos o presente e a perspectiva de futuros dessas pessoas a quem a História negou oportunidades.

Os “identitaristas” contra mim!

 

Estava eu lá, passeando pela Europa portuguesa/hispânica, analisando as novas tendências sociais do velho continente, e deparei-me com um blog (http://pt.novopress.info) de forte conteúdo identitarista – o “identitarismo” é mesmo isso que transcrevo aqui adiante, vindo do moderador (?) daquele blog :

“O movimento identitário na Europa visa, básicamente, o estritar de laços dos Povos com a sua Terra, o objectivo final é a nossa sobrevivência neste mundo globalizado e para nós isso passa pela preservação do nosso legado etno-cultural. Saudações Europeias.”

Concordo. E digo, ainda, que o nosso pensamento sobre cultura e história buzianas comunga desses postulados básicos. O que diferencia meu “identitarismo” do movimento de lá é a questão da perspectiva: eles são “vencedores”, nós somos os “vencidos”! Os nossos pretos estão descendo dos morros, confrontando a society, e os congoleses atravessam vorazmente o Gibraltar. A Justiça é a única resposta capaz de aplacar a violência. Mas, leiam o seguinte trecho de notícia, do dia 24 de julho de 2008, veiculado naquele mesmo site:

Um polémico “pacote” legislativo para combater a imigração clandestina foi hoje aprovado por ampla maioria na câmara alta do parlamento italiano. Esta legislação é criticada pela esquerda, associações católicas e de defesa dos direitos humanos, bem como por algumas instâncias europeias.

A imigração clandestina passa a ser crime punível com uma pena de seis meses a quatro anos de prisão, são agravadas em um terço as penas dos reincidentes, as expulsões ficam mais facilitadas e os proprietários de estabelecimentos que alojem ilegais incorrem em seis meses a três anos de cadeia. A duração da estada dos clandestinos em centros de acolhimento pode ser prolongada de dois para 18 meses.

O “pacote” contempla ainda duras medidas contra a criminalidade perpetrada por estrangeiros.

Ora, todos sabem que hoje há uma enorme pressão anti-áfrica pesando sobre a gestão da União Européia! Não há nada de novo. Esses são reflexos exatamente do movimento identitário. Esse movimento, obviamente, tem seu lado bom servindo de fachada para muitos neofacistas, travestidos de democratas e liberais. E foi assim que lhes respondi nestes termos adiante, ainda tentando “falar o português”:

“Soubesses tu, o quanto eu mesmo sou amante das tradições européias! Especialmente francesas e portuguesas! Seria prolixo tanto quanto Camões, em delinear a bravura de lançar-se progressivamente ao desconhecido. Nem imaginas quê passa em meu coração quando a ouvir Amália, Dulce Pontes, Mariza e outras fadistas!

Mas estou aqui a falar de laços mais fortes do que o “neo-nacionalismo”, isso que me parece um nacionalismo novo, pois somente lhe alteraram na base o conceito de “nação”, dando-lhe o fulcro mais cultural e menos político. Meu blog se chama, como se há de notar, “ecologia humana”, e certamente poderia chamá-lo “ecologia identitária”, se isso não implicasse reduzir o alcance filosófico e ético que meu título propõe.


Ao invés de repudiar o Identitarismo, louvo-o, mas com as cautelas de quem observa uma história européia onde, diversas vezes, o ímpeto conservador descambou à barbárie, ao nacionalismo xenófobo e genocida.
Quanto a isso, digo, há mais maneiras de se matar o homem do que lhe sangrar diretamente. Temo a morte por degredo, do preconceito, das privações… Outrossim, sabemos, no campo das teorias econômicas, que há outras formas, menos confortáveis, que o identitarismo, de amenizar a “descaracterização” da Europa; mas é uma pena que os europeus não queiram relaxar mão de seus confortos, suas ostentações, suas agressões diárias ao meio ambiente, sua exploração aos países pobres…

De qualquer modo, agradeço profundamente sua manifestação.

Vê: estamos, de modo ou outro, indo em direções paralelas.

Saudações Buzianas!”

Analisem, então, e tirem vossas conclusões. Sobretudo, não devemos esquecer o seguinte axioma: “a miséria é parasita da riqueza”. Agora que a França retalhou o Benin, que Portugal desterrou os avós de nossos negros favelados, sequestrando-os para o degredo e a morte… Agora querem dar as costas, com a singela justificativa: “temos uma identidade a preservar, e vocês, pobres, famintos e expolorados não têm nada a ver com nossas raízes gloriosas“. ▓