Senhores, falemos de duas espécies de ‘filtros sociais’

A universidade pública tem um filtro para escolher quem entra e, historicamente, nós sabemos que ele foi engendrado de modo no mínimo irresponsável, se não deliberado, com esta função: segregar, manter privilégios. Pais abastados, que, por ‘coincidência’ são a classe dominante, inclusive na política, determinam a programação curricular da Educação Básica e do Ensino Superior. Então eles (donos do poder), conduzem seus filhos a boas escolas privadas, que os capacitarão a comer o ‘filé’, a passar pelo filtro condensado no vestibular. De outro modo, esta classe dominante (que não é preta nem pobre) destina uma péssima Educação de Base aos seus adversários de classe ─ negros e pobres…

O OUTRO FILTRO É O MERCADO. O mercado sabe selecionar quem teve boa formação, independente, inclusive, de ela ter ocorrido no setor público ou privado. A formação superior, não adianta negar, forma para o mercado ─ o filtro mercado é inexorável. Então vejamos: que coisa é essa de que é problemático “jogar negros despreparados dentro de uma universidade”? Formaram essa medíocre opinião já com base em preconceitos! Quem disse que o negro ‘jogado’ na universidade é despreparado? Por que nos permitimos esse pejo genérico e imperialista contra uma classe de pessoas? Será que o sujeito de classe média, apenas por que tem dinheiro pra ser adestrado por um cursinho pré-vestibular, também não tem uma “formação medíocre”? Por outro lado, essa história de que as cotas rebaixam o nível acadêmico vêm sendo questionada de modo peremptório por quem faz observação metódica da trajetória dos cotistas. Surpreendentemente, hoje, a maioria dos que passam em concursos públicos de nível superior receberam alguma forma de subsídio ou cota governamental.

ENTÃO ACREDITO que devemos desconfiar de nossas certezas e pesquisar dados objetivos; analisar nossos preconceitos (não de raça, que não é o caso). Mas tenho visto muito empirismo, muito achismo nessas críticas. Obviamente, e a priori, a cota para negros não me agrada, numa vista hermética; elas devem ser rechaçadas num sistema ideal – muito distante do nosso. Também dizer que tem que se investir em Educação Básica me soa já consensual, É ÓBVIO! E isto seria estar semando para o horizonte de uma a duas décadas… Mas o de que se está falando é da reparação de um tempo passado, para que aproveitemos o presente e a perspectiva de futuros dessas pessoas a quem a História negou oportunidades.

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