Homem Rico, Natureza Pobre

A crise econômica européia, além de evidenciar o poder do mercado de capitais sobre os governos, denuncia outra faceta, mais grave, que é a crise do “Estado de Bem-Estar Social”. Enquanto a desorganização econômica dos Subdesenvolvidos os restringia a meros fornecedores de insumos, o consumo e a luxúria dos países ricos estiveram resguardados.

Hoje, com o verdadeiro sistema de vasos comunicantes estabelecido pela Globalização, as massas sociais dos países pobres forçam o mercado de consumo e pressionam o governo em busca dos direitos propagandeados pela mídia mundial e paulatinamente introduzidos nos sistemas de direitos locais. Um terceiro ponto a ser observado é a pressão do consumo sobre a natureza e o meio natural.

Vale ressaltar que a riqueza nada mais é do que a transformação dos recursos naturais em produtos e valias, e que a ‘sustentabilidade’ é um conceito tão raso quanto uma poça onde as formigas passam com a água na canela.

O Espetáculo do Crescimento*

Folheei aos poucos a obra O Espetáculo do Crescimento*, ao longo de 2009 e 2010, e, quanto mais o tempo passa, mais suas análises de políticas econômicas ganham correlação com o nosso cenário de crescimento desordenado. Em primeiro lugar porque somos ‘pobres’, em termos de infraestrutura e consistência econômica; em segundo, porque o nosso crescimento é ameaçadoramente insustentável, nos moldes depredatórios em que vai.
Lá pela página 283, Easterly sentencia: “Sempre que numa economia a maior oportunidade de lucro consistir em burlar as normas do Governo, nada de bom irá acontecer na economia real”.
Trazendo esta regra mais pro nosso quadro urbanístico, pode-se dizer que a burla aqui não é necessariamente contra as leis do governo, mas contra as leis da natureza. Nada custa lembrar que a moralidade e as forças da natureza estão acima da lei – feita por homens, para homens, e muitas vezes, sob encomenda…
Posto então aqui à frente o player com um curto e profundo documentário, mostrando o desastroso processo de urbanização da metrópole paulistana:

Acredito que ainda há tempo para um planejamento urbanístico da Cidade. Mas num processo que inclua todos os setores sociais, e não considere que o lixo e os pobres devam ser empurrados para baixo do tapete.

*Nome do livro do economista do MIT e do Banco Mundial, William Easterly, especialista em crescimento de economias pobres.