Voto Nulo Anula o Próprio Eleitor

No meu entendimento, a opinião mais deteriorada de um cidadão é “todos roubam, não voto em ninguém”. Equivaleria a alguém que cometesse suicídio, ao constatar que “todos morrem”. Só seria inteligente a abstenção, se nós pudéssemos também nos excusar de sermos vítimas; mas não é assim.

“Mesmo com ordem judicial, idosa morre após sete dias aguardando vaga” (http://is.gd/g7olg) = não vote em ninguém (?!)

Governar é muito mais do que ‘roubar ou não roubar’. Embora a honestidade seja essencial apecto do caráter. O eleitor não vai à urna responder singelamente ‘Dilma’ ou Serra’; ‘rouba’ ou ‘não rouba’. Basta ver que há dolo, culpa ou omissão em quaisquer segmentos da sociedade — nós mesmos temos nossas falhas, mesmo que sejamos a nosso ver corretos — é da natureza humana. Não estamos elegendo santos. O voto é a prática de uma leitura política voltada ao longo prazo — vota-se ‘no menos pior mesmo’, se formos pensar que as pessoas podem ser julgadas apenas pelos defeitos.

Só acredito que há ainda muita luta antes de se ‘rasgarem’ votos. Pode-se melhorar a educação do eleitor, torna-lo facultativo, tornar distrital-misto, restringir acesso de fichas-sujas, etc. Se no entendimento dos pessimistas, o voto não tem poder de influenciar positivamente a sociedade, eu pergunto: pra que serve o voto nulo? Não seria menos ‘omissão’ lutar pelo direito de não votar?! Ah! é mais cômodo botar grades nas janelas, blindar o carro, morar em condomínio, e pagar um plano de Saúde. Então a massa vota, mesmo errado (muitas vezes!), pois ela não tem esses privilégios típicos da classe que reservou a boa educação pros seus filhos… Talvez a massa vote por instinto, pra que, de erro em erro, um milésimo de grau talvez seja alterado.

Imagine o cenário pessimista: a cultura do ‘voto nulo’, subindo de 5% a 5%, será eficaz dentro de 20 eleições — 80 anos; quando chegar lá, se elegerá necessariamente o ‘superman’ que nossos filhos quiserem! E será uma espécie de Salomão — justo, reto e piedoso (mas com 700 concubinas, que ninguém é de ferro). Pergunto então: não há nada que se faça antes?

“O maior castigo para aqueles que não se interessam por política, é que serão governados pelos que se interessam.”(Arnold Toynbee)

Podem colocar os verbos no passado: por isso é que chegamos a este estágio de decepção. O que é: querem vestir a omissão com a aparência de ‘cidadania’?!

Ontem morreu mais uma mulher, negra, idosa e pobre — estereótipo preferido das injustiças. A hipotética ilusão satisfaz melhor minha ética humanista do que um ‘virar de costas’, que se faz com o utópico ‘voto nulo’. O voto nulo só anula o próprio eleitor.