Crimes perfeitos: assassinos festejados

Dado um dos mandamentos dizer ‘não matarás’, e considerando o que vi em minha experiência na Administração da saúde, que tem burocratas cruéis, incompetentes e religiosos matando com canetadas, arrisco denunciar aqui certos morticínios insuspeitos do cotidiano:

Assassinato não é apenas ação de quem desfere uma facada ou puxa um gatilho. 

Assassinato é também deixar de prevenir a morte, quando se dispõe de meios para fazê-lo. O risco de assassinar não é apenas assumido por quem se embriaga e conduz automóvel, ou daqueles mecânicos de aeronave que marcam ‘ok’ no item danificado.

Mata dolosamente, repito: do-lo-sa-men-te, aquele que pode por à disposição do doente gravíssimo uma vaga em leito de UTI e não o faz, alegando “economia” (até quanto você pagaria pela vida da sua filha?).

Mata quem não administra ao doente hospitalizado a medicação que ele, pobre, não pode pagar, e no silêncio do leito não pode reclamar. Mata de modo mais cínico, mas também dolosamente, aquele que deixa o diabético e o hipertenso serem destruídos por dentro, silenciosamente, por falta de remédios mais baratos do que um pão.

Mata, friamente, quem atrasa e burocratiza o acesso a exames que podem revelar o câncer na fase curável, para relegar o paciente à morte dolorosa em curto tempo.

Mata o lobista, que impõe prioridade nos recebimentos e compra o direito nefasto de terceirizar setores onde o dinheiro da saúde escorre, para ser dividido por sócios no assassinato – essa é a matilha de lobos lacerando o cadáver da vítima-paciente.

Mata com requinte de crueldade, os desgraçados e hipócritas, que ostentam religião mas seguem matando festivamente.

Doente acamado.