Quem diria há 30 anos que as pessoas iriam ‘conversar’ escrevendo “cara a cara” a partir de diferentes continentes? Podemos até voltar num tempo em que a velocidade necessária à comunicação era a da carta, e as pressões eram por 12h a menos, 24h a menos, uma semana a menos… O carteiro, com seus 70kg e sua marcha de 5km/h, fazia a função dos elétrons que hoje marcam os bits, e trafegam sem peso, a uma velocidade “instantânea”. O impacto do “tempo zero” na escrita de um lado a outro provoca enormes transformações no terreno da linguagem e da língua padrão. As linguagens tradicionais deixaram de ser majoritariamente um meio de acesso ao conhecimento e se transformaram em subproduto do conhecimento dinâmico em rede, pelo volume informativo atual. De certa forma, as conversas nas redes sociais são um grande laboratório de transmutação da mente humana. Certamente alguns homens de escrita impecável no tempo da carta, errariam a ortografia como qualquer adolescente que hoje penitenciamos, afinal de contas os meninos falam ‘on line’ com uma dezena de pessoas por dia, segundo a segundo, e não a cada três meses…
Mas não é esse o foco da análise. Quero falar sobre o impacto da “velocidade” na fisiologia do cérebro, o que significa o surgimento de um ‘novo homem’, fruto de uma revolução impensável. Agora mesmo a natureza distingue os que se adaptam ou não, e a sociedade, com suas condicionantes de classes e acessos, determina quem pode se adaptar ou não… O mecanismo da adaptação ─ tão caro ao desenvolvimento psicossocial ─ neste momento nos converte em super-homens. E pensaremos: mas a velocidade, em tese, não resume todos os aspectos da cognição: é possível pessoas de mente ‘rápida’ não saberem lidar com determinadas resoluções. Ou seja, a velocidade é apenas uma variável cognitiva. Porém, é possível afirmar, que a velocidade de fluxo da informação já afeta drasticamente o conhecimento, as linguagens e a estratificação social. Uma avalanche de informações passa cotidianamente à nossa frente, como um rio caudaloso. Independente de critérios objetivos, existe um processo de seleção natural a pleno vapor, privilegiando uns, afastando outros que já foram preteridos em outras revoluções… O nosso pensamento ecológico-humano corre a colocar nas filas desse trem as pessoas e as consciências fadadas a ficarem presas no tempo passado, excluídas. E talvez, o que conspire contra a ‘solidariedade desenvolvimentista’, é que não sabemos bem aonde este trem vai. Sabemos que estamos – ou deveríamos estar – juntos nesta viagem ao futuro que já é o presente do Mundo.