Polícia: faxineira da Sociedade?

Somos um Estado Policial ou um Estado Político?

Nossas soluções não têm cunho de políticas públicas socialmente sustentáveis. Estamos engajados no imediatismo da execuções policiais, exterminando uma classe, em vez de reservarmos uma parte de nossas estratégias à re-humanização – a verdadeira pacificação duradoura.

Comento aqui a série de notícias de mortes causadas pelo BOPE e outras polícias, nas ocupações em curso, como a da Mangueira.

Essa discreta ‘revolução’ dirigida pelo Estado, que mata pobres, pretos e pardos etc, é comemorada pela sociedade, como se ‘enxugar gelo’ fosse uma solução definitiva. Como chegou a dizer o comandante Beltrame, no mês passado, É NECESSÁRIO ENTRAR NAS COMUNIDADES NÃO APENAS COM FORÇA, mas com medidas reintegrantes, re-humanizantes, como educação e acesso às culturas e profissionalização. Matar indivíduos ‘desviados’ é um crime contra a Humanidade, cujos intereses gerais deveriam predominar.
A persistir assim, com o sistema plantando aberrações psicossocias e com o BOPE colhendo a ‘escória’ que a sociedade produz, teremos um saldo similar à limpeza étnica nos Balcãs, mas sem garantia de verdeira pacificação. Não precisa ser inovador para concluir que a pessoa, elevada à razoável condição de cidadania, de inclusão, pode ser recuperada de estar à margem. Respondendo à pergunta do subtítulo: por enquanto somos um Estado que somente em casos seletivos, que lhe convém, lança mão de suas prerrogativas de força .

Ideais modernos

Charge no Jornal do Brasil de 25 de julho de 2008

Charge no Jornal do Brasil de 25 de julho de 2008

A sociedade vem sendo equivocamente dividida entre “vencedores” e “perdedores”. O conceito de vitória segue criando seus quesitos. Bom é quem tem mais carro, dinheiro, casas, celulares, mulheres, fama, prêmios, mídias… “Ruim” é quem “tem que trabalhar”, tem menos dinheiro, menos comida, menos escolaridade… Vamos ver aonde nos leva o poder comandado pelos que têm mais…

O problema, que antes era apenas um “detalhe”, é que agora os perdedores estão armados com pistolas, fuzis e ignorância; agem excitados pelas mesmas mídias que alienam, deseducam e pregam o consumismo como satisfação das “necessidades”, da liberdade.

Enquanto as escolas não “ensinarem a aprender”, e às mídias não se cobrar o engajamento na causa do progreso humano, vamos assim, de um presente caótico a um futuro incerto.

Senhores, HÁ VALORES MAIORES QUE O DINHEIRO! ¿Qual motivo tenho para admirar a  religiosidade desse povo, desses governantes, dessa elite??? O que direi ao meu filho sobre as “coisas do espírito”, se estão matando a alma de nossas crianças?!?!?

O agnosticismo, meu e de Einstein

Nem sei explicar tamanho o alívio, quando, em 1995, tive acesso a estas notas de Einstein! Senti que eu não era o “DEFEITUOSO sem religião”, que tantas vezes a sociedade maniqueísta me fez sentir. Albert Einstein, homem de um refinado humanismo, e de uma racionalidade inquestionável, soube magistralmente combater o vício do Deus antropomórfico (à imagem do homem). É ele, inclusive, um dos mais cautelosos agnósticos. Seu ceticismo nunca o impediu de reverenciar a “Grande Mente”. Muita gente chega a “um deus” por meio das próprias deformações psicológicas. Obviamente, projetam no Altíssimo as limitações que têm em si. Einstein, do contrário, encontrava a Grandeza na sua profunda racionalidade, por sua mente capaz de abranger muito do infinito universo. Abaixo seleciono e transcrevo os mais relevantes pensamentos da “fé” einsteniana.

“Não seria difícil chegar a um acordo quanto ao que entendemos por ciência. Ciência é o esforço secular de reunir, através do pensamento sistemático, os fenômenos perceptíveis deste mundo, numa associação tão completa quanto possível. Falando claramente, é a tentativa de reconstrução posterior da existência, pelo processo da conceituação. Mas, quando pergunto a mim mesmo o que é a religião, a resposta não me ocorre tão facilmente. E, mesmo depois de encontrar uma resposta que possa me satisfazer num momento particular, continuo convencido de que nunca consigo, em nenhuma circunstância, criar um acordo, mesmo que muito limitado, entre todos os que refletem seriamente sobre essa questão.

De início, portanto, em vez de perguntar o que é religião, eu preferiria indagar o que caracteriza as aspirações de uma pessoa que me dá a impressão de ser religiosa: uma pessoa religiosamente esclarecida parece-me ser aquela que, tanto quanto lhe foi possível, libertou-se dos grilhões, de seus desejos egoístas, e está preocupada com pensamentos, sentimentos e aspirações a que se apega em razão de seu valor suprapessoal.

Parece-me que o importante é a força desse conteúdo “acima da personalidade”. E a profundidade da convicção na grandeza desse significado, idependente de se considerar esse “conteúdo” com um “ser divino”, pois, de outro modo, não poderíamos considerar Buda e Spinoza como personalidades religiosas […pois eles foram, a seu modo, “religiosos”, mas sem culto a qualquer deus].

Um conflito surge, por exemplo, quando uma comunidade religiosa insiste na absoluta veracidade de todos os relatos registrados na Bíblia. Isso significa uma intervenção da religião na esfera da ciência; é aí que se insere a luta da Igreja contra as doutrinas de Galileu e Darwin. Por outro lado, representantes da ciência tem constantemente tentado chegar a juízos fundamentais com respeito a valores e fins com base no método científico, pondo-se assim em oposição a religião.

Não posso conceber um autêntico cientista sem essa fé profunda. A situação pode ser expressa por uma imagem: a ciência sem religião e aleijada, a religião sem ciência e cega. Embora eu tenha afirmado acima que um conflito legítimo entre religião e ciência não pode existir verdadeiramente, devo fazer uma ressalva a esta afirmação, mais uma vez, num ponto essencial, com referencia ao conteúdo efetivo das religiões históricas. Esta ressalva tem a ver com o conceito de Deus.

Durante o período juvenil da evolução espiritual da humanidade, a fantasia humana criou a sua própria imagem ‘deuses’ que, por seus atos de vontade, supostamente determinariam ou, pelo menos, influenciariam o mundo fenomênico. O homem procurava alterar a disposição desses deuses a seu próprio favor, por meio da magia e da prece. A idéia de Deus, nas religiões ensinadas atualmente, é uma sublimação dessa antiga concepção dos deuses. Seu caráter antropomórfico se revela, por exemplo, no fato de os homens recorrerem ao Ser Divino em preces, a suplicarem a realização de seus desejos.

Certamente, ninguém negará que a idéia da existência de um Deus pessoal, onipotente, justo e todo-misericordioso é capaz de dar ao homem consolo, ajuda e orientação; e também é positiva, em virtude de sua simplicidade, acessível às mentes menos desenvolvidas. Por outro lado, porem, esta idéia traz em si aspectos vulneráveis e decisivos, que se fizeram sentir penosamente desde o início da história. Ou seja, se esse ser é onipotente, então tudo o que acontece, aí incluídos cada ação, cada pensamento, cada sentimento e aspiração do homem, é também obra Sua; nesse caso, como é possível pensar em responsabilizar o homem por seus atos e pensamentos perante esse Ser ‘todo-poderoso’? Ao distribuir punições e recompensas, Ele estaria, até certo ponto, julgando a Si mesmo. Como conciliar isso com a bondade e a justiça a Ele atribuídas?

Não há dúvida de que a doutrina de um Deus pessoal que interfere nos eventos naturais jamais poderia ser refratada, no sentido verdadeiro, pela ciência, pois essa doutrina pode sempre procurar refúgio nos campos em que o conhecimento científico ainda não foi capaz de se firmar. Estou convencido, porém, de que tal comportamento por parte dos representantes da religião seria não só indigno como desastroso. Pois uma doutrina que não é capaz de se sustentar à “plena luz”, mas apenas na escuridão, está fadada a perder sua influência sobre a humanidade, com incalculável prejuízo para o progresso humano.

Em sua luta pelo bem ético, os professores de religião precisam ter a envergadura para abrir mão da doutrina de um Deus pessoal, isto é, renunciar a fonte de medo e esperança que, no passado, concentrou um poder tão amplo nas mãos dos sacerdotes. Em seu ofício, terão de se valer daquelas forças que são capazes de cultivar o Bom, o Verdadeiro e o Belo na própria humanidade. Trata-se, sem dúvida, de uma tarefa mais difícil, mas incomparavelmente mais valiosa. Quando tiverem realizado esse processo de depuração, os professores da religião certamente hão de reconhecer com alegria que a verdadeira religião ficou enobrecida e mais profunda graças ao conhecimento científico.

Se um dos objetivos da religião é libertar a humanidade, tanto quanto possível, da servidão dos anseios, desejos e temores egocêntricos, o raciocínio científico pode ajudar a religião em mais um sentido. Mas todo aquele que experimentou intensamente os avanços bem-sucedidos feitos nesse domínio [da ciência] é movido por uma profunda reverência pela racionalidade que se manifesta na existência. Através da compreensão, ele conquista uma emancipação de amplas conseqüências dos grilhões das esperanças e desejos pessoais, atingindo assim uma atitude mental de humildade perante a grandeza da razão que se encarna na existência e que, em seus recônditos mais profundos, é inacessível ao homem. Essa atitude, contudo, parece-me ser religiosa, no mais elevado sentido da palavra. A meu ver, portanto, a ciência não só purifica o impulso religioso do entulho de seu antropomorfismo, como contribui para uma ‘espiritualização’ religiosa de nossa compreensão da vida.

Quanto mais avança a evolução espiritual da humanidade, mais certo me parece que o caminho para a religiosidade genuína não passa pelo medo da vida, nem pelo medo da morte, ou pela fé cega, mas pelo esforço em busca do conhecimento racional. Neste sentido, acredito que o sacerdote, se quiser fazer jus a sua ‘sublime’ missão educacional, deve tornar-se um professor.”

* Colchetes marcam comentários meus.

* “Ciência e Religião” (1939-1941) – Págs. 25 a 34. Einstein, Albert, 1870-1955 Título original: “Out of my later years.” Escritos da Maturidade: artigos sobre ciência, educação, relações sociais, racismo, ciências sociais e religião. Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges – Rio de Janeiro : Editora Nova Fronteira, 1994.