Ódio – resíduo da barbaridade

Pintura rupestre pre-histórica com cena de guerra

Por uma questão de autodefesa, de prevenção, nosso cérebro entende ou preconceitua o desconhecido como ameaça, risco, perigo. Esse é um instinto mecânico, um resíduo do ‘barro’, da estrutura biológica animal de que nos originamos ou do meio hostil primitivo em que vivêramos, como humanos rústicos.

Se pouco sabemos sobre algo, e se esse desconhecimento é estimulado por dogmas subconscientes indutores do estranhamento, logo receamos e repudiamos. Se há uma situação de risco iminente, o desconhecimento logo pode ser convertido em pavor, reação. Se nos colocamos em ambiente ideológico de acirramento entre partes que buscam propagar sua base de credibilidade social, chegamos facilmente ao ódio induzido.

E se odiar é um fenômeno da psicossociologia, a comunicação de massa – mídias ou fofocas – está para o ódio como o rastilho de pólvora está para a dinamite.

Saber as razões do nosso ódio passa por admitir humildemente o nada sei; passa por aceitar nosso passado rude em meio selvagem, embora contra essa verdade orgânica a civilização tenha criado mitos e dogmas.

Entender e coibir o ÓDIO passa pala propriocepção – a percepção de si, dos próprios mecanismos mentais, em face da História e da conjuntura sociológica.

Em defesa de uma ‘origem nobre’, algumas religiões e filosofias nos afastaram da natureza. A religião inclusive nos afastou de uma percepção singela, desdogmatizada e natural de Deus, como se um poder universal pudesse se contingenciar a uma grupo humano escolhido por sorteio ou intuição, em detrimento de outros.

Em defesa de teses singelas e puristas, o complexo sistema neuro sensitivo foi substituído por preconceitos e superstições – “é assim porque nasceu assim, de uma sopa proteica ou das mãos de Deus”.

Em suma, nós odiamos o desconhecido, e quando nos aparecem cristos pregando amor ou fazendo o bem que nossa rudeza estranha, o crucificamos.

Já odiei coisas que agora amo, sem ferir minha essência. Com a maturidade ‘orgânica’ busco uma forma íntima de humildade. Na humildade aprendo a não odiar. Quando não odeio, sou livre para apenas desprezar sem rancor ou tolerar sem veneração.

JULGAR-SE sábio e conhecedor de tudo – por via da fé ou da razão – é temeroso, diante dos riscos da natureza humana; buscar a sabedoria é o que da mais humano se pode fazer. •