Vendedores de ilusão

A imprensa brasileira se consolidou como um meio de convencimento das pessoas sobre a tese de mundo acreditada por seus patrões. Difere-se de outras imprensas do mundo, pelo aspecto dissimulatório de uma falsa isenção.

A imprensa não é a voz majoritária, não traduz a realidade ‘pura’: reproduz a percepção dos donos do poder vertida para o linguajar comum. Se um membro da família Frias ou Marinho se assentasse na bancada do telejornal, para dar sua opinião classista, nua, os sóbrios vomitariam. Claro, se este modelo de imprensa ainda deixasse sóbrios entre os espectadores.

Na tarefa de convencer, fatos de apelo popular são escolhidos, como quem escolhe o queijo que mais apetece ao rato; e estes são temperados com conceitos e valores da classe dominante. Repare que não está se ressaltando o papel do jornalista, empregado, mas dos mecanismos editoriais. O resultado então é que o oprimido, por “coincidência”, vitima de uma identidade simulada, concorda com o opressor. 

Este é o ponto em que o ciclo parece estar completo: há opiniões formadas, e opiniões que se denominam “livres”, fundadas na liberdade de acesso à informação, direito humano, tutelado pela Constituição, defendido pela “moralidade pública”…

Mesmo pessoas letradas defendem essa “liberdade de comunicação”, que na realidade é tão só a liberdade de oprimir etereamente por meio de estratégias empresariais e políticas, pois o culto da liberdade foi outra coisa usurpada do povo: no fundo, a imprensa tradicional nunca foi livre, em sentido latu, nem quer sê-lo – ela quer estar desempedida, para escolher seu senhor que não é o povo, é a classe que vende o produto com a maior margem de lucro do  universo: a ilusão. •

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